P. EaD: Quem educa e para quê?

Nós escolhemos uma escola privada, a Clonlara School Off Campus. Eu vejo a escola presencial tradicional com falhas sérias, seja privada, seja pública. E se a escola tradicional de fato formasse cidadãos com saúde mental e engajamento político, o argumento de que ela é um instrumento de justiça social seria muito mais legítimo, e com certeza nós teríamos escolhido a escola tradicional para os nossos filhos. Mas o que vemos, com frequência, são jovens exaustos, disciplinados para obedecer, não para pensar — e a saúde mental comprometida não é um efeito colateral, é muitas vezes parte da engrenagem. Ao escolher o Unschooling e a Clonlara School, acreditamos estar respondendo com atos à pergunta provocadora: quem educa, e para quê? Essa pergunta já desafia a ideia de que a resposta óbvia seja "a escola tradicional". Mas vamos abrir o leque:


O Estado? Via currículos obrigatórios, avaliações padronizadas, controle institucional?


O mercado? Quando pais escolhem escolas como consumidores — e a lógica da concorrência molda as ofertas?


A família? Que transmite valores, saberes cotidianos, modos de ser?


A comunidade? Com suas práticas, tradições, referências morais e afetivas?


A mídia? Que influencia comportamentos, desejos e formas de pensar?


As plataformas? Que moldam a experiência da infância hoje, algoritmicamente?


O Unschooling faz um giro radical: ele devolve à criança e à família um protagonismo que foi expropriado. Em vez de “educar” no sentido de moldar alguém segundo um modelo externo, o unschooling cria espaço para o crescimento de dentro para fora — com mediações conscientes, sim, mas sem domesticação.


E o mais importante: Para quê educar? Aqui está o coração ético e político da discussão. Educa-se para quê?


Para a cidadania democrática? Mas de que democracia estamos falando — representativa, liberal, ou participativa, radical?


Para o mercado de trabalho? Isso ainda faz sentido quando o próprio mercado se torna instável, precário e muitas vezes adoecedor?


Para a disciplina social? O famoso “saber seu lugar” e seguir regras?


Para o desenvolvimento pessoal e coletivo? Aprender a viver, conviver e transformar o mundo?


Essa pergunta é inquietante porque não tem resposta neutra. Cada projeto educacional — da escola pública ao unschooling — carrega uma aposta no tipo de ser humano que se quer formar.


Com nossas escolhas, estamos apostando na autonomia, na dignidade, na pluralidade dos saberes, não em adaptar nossos filhos a um sistema que os vê como peças de engrenagem.

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