P. EaD: Google na aprendizagem autodirigida
Na jornada unschooler de nossos filhos, a tecnologia nunca foi um fim em si mesma, mas uma ponte entre interesses genuínos e possibilidades concretas de criação, conexão e expressão. Entre as ferramentas digitais que mais facilitaram essa travessia, a Google Suite for Education se destacou como uma caixa de ferramentas versátil, adaptável e surpreendentemente libertadora — quando usada fora das amarras escolares convencionais.
Sim, usamos o Google Suite. E sim, sabemos que isso tem um custo ético. Fizemos uma escolha consciente, provisória, pragmática. E seguimos atentos, debatendo, revisando, ensinando nossos filhos a perceber as contradições, e algumas verdades precisaram ser ditas nessa caminhada.
Primeira verdade: não existe pureza possível no neoliberalismo. Quase tudo que usamos — celular, computador, internet, alimentos, roupas — carrega, em algum ponto da cadeia, exploração, desigualdade, devastação ambiental, colonialismo. Isso não é uma escolha individual. Isso é a estrutura. É o tabuleiro no qual estamos jogando, não importa se a gente gosta das regras ou não. Então... sentir culpa por existir dentro desse sistema é como sentir culpa por respirar ar poluído numa cidade grande. O problema não é você respirar. O problema é o sistema que tornou o ar irrespirável.
Segunda verdade: toda escolha é uma negociação. O que a gente faz não é se render. É fazer uma escolha consciente, informada, imperfeita — como TODAS as escolhas no neoliberalismo. A gente olhou para o custo (privacidade, dependência de uma big tech) e para o benefício (funcionalidade, integração, tempo liberado) e decidiu. Isso é autogestão aplicada. Isso é democracia interna. Isso é soberania dentro do possível. Eu quero acreditar que a gente não está se entregando ao Google. A gente está instrumentalizando o Google dentro dos nossos próprios valores. A diferença é enorme.
Terceira verdade: a vergonha é parte do jogo deles. A indústria quer que a gente sinta que o problema é nosso. É a lógica do “ecoconsumidor” — separe seu lixo, mas não questione a indústria. É a lógica da “privacidade pessoal” — proteja seus dados, mas não questione a arquitetura de vigilância. Se você se sente culpada, você gasta energia se julgando, em vez de se organizando coletivamente para criar alternativas. É brilhante, não? Brilhante… e perverso. Se essa culpa está presente, ela pode ser transmutada. Como?
— Alimentando conversas em casa sobre soberania digital.
— Buscando (quando possível e desejável) ferramentas alternativas.
— Participando de redes que debatem tecnologia ética, software livre, criptografia.
— Ensinar Ana e Davi a entender que as ferramentas são meios, não fins. E que toda ferramenta carrega uma ideologia embutida — seja o caderno, seja o Google Docs.
— E, principalmente, não deixar que o peso da imperfeição nos roube a alegria de estar construindo um caminho tão bonito, tão raro, tão amoroso.
Quarta verdade: existe coerência, mas não existe coerência total. A coerência que importa não é a pureza. É a honestidade. Isso não é hipocrisia. Isso é maturidade política. É alfabetização digital crítica. É formar crianças que não vivem na ilusão de que é possível sair limpo do lamaçal neoliberal — mas que sabem onde pisam, sabem para onde estão olhando, e sabem que outro mundo é possível, mesmo que não seja agora.
Então, voltando ao nosso uso do Google. Diferente da forma como essas ferramentas são comumente utilizadas em contextos escolares (com prazos, tarefas obrigatórias e supervisão rígida), nós as ressignificamos com um espírito lúdico, investigativo e colaborativo, sempre guiado pela curiosidade dos nossos filhos. A seguir, descrevemos brevemente como cada recurso foi integrado de maneira orgânica à vida deles, contribuindo para a organização do cotidiano, o aprofundamento dos estudos e a produção de conhecimento significativo.
1. Organização e Autogestão
Google Calendar se tornou uma bússola prática. Era ali que Ana e Davi registravam datas importantes, como feiras ou prazos pessoais de projetos — não porque alguém cobrava, mas porque eles queriam se preparar.
Google Keep virou o jardim onde ideias brotavam: anotações rápidas de temas que surgiam durante o almoço, listas de vídeos para assistir mais tarde, sugestões de livros ou músicas que vinham de amigos ou de conversas conosco.
2. Pesquisa e Exploração
Para investigações mais aprofundadas, Google Scholar abriu as portas para artigos acadêmicos que atendiam aos seus interesses — de história da arte a psicologia da criatividade.
Google Books e Google Arts & Culture ampliaram ainda mais essa biblioteca viva e global, permitindo visitas virtuais a museus, leitura de trechos de obras raras e mergulhos em diferentes expressões culturais — tudo isso integrado à dinâmica da casa, do sofá ou da varanda, com o passar das horas ditado pela paixão, não pelo relógio.
3. Produção Criativa
Em Google Docs, nossos filhos escreveram histórias, diários de aprendizado, roteiros de vídeos e esboços de postagens para o blog que criaram: Clube de Literatura Fandom.
Já o Google Blogger se tornou espaço de publicação e memória: um repositório vivo de projetos, descobertas, resenhas, fotos e reflexões, como um museu digital do percurso unschooler que continuam construindo.
4. Aprendizado Colaborativo
Com Google Classroom, experimentaram a criação de cursos informais — clubes de leitura, ciclos de estudos sobre fandoms. Tudo era espontâneo, horizontal, baseado na vontade de partilhar e aprender em conjunto.
Google Meet facilitava encontros virtuais com o Advisor, familiares, outros jovens. Foram tardes de debates, trocas, perguntas e risadas que atravessavam distâncias geográficas, sem perder o calor humano.
5. Desenvolvimento de Habilidades Práticas
A administração da vida e dos projetos também passou pela prática: com Google Sheets, eles criaram orçamentos para iniciativas artísticas, planilhas de leitura, controle de insumos para experimentos de ciência.
Google Forms serviu para criar pesquisas entre amigos ou desenvolver quizzes temáticos como parte dos projetos de escrita.
6. Exploração Multimídia
YouTube, vinculado ao Google for Education, foi outra poderosa ferramenta: além de acessar tutoriais, documentários e entrevistas, eles criaram um canal com o e-mail nosorientandocomnossosfilhos@gmail.com, onde postaram registros de projetos em andamento e reflexões audiovisuais.
Google Earth, por sua vez, possibilitou viagens imersivas que iam muito além do conteúdo curricular tradicional: trilhas por florestas tropicais, explorações arqueológicas, observações de fronteiras políticas e culturais.
7. Personalização e Autonomia
Google Drive é onde vivem os rastros desse percurso: pastas organizadas por tema, certificados de participação em cursos livres, relatórios espontâneos de aprendizagem, registros de voluntariado.
Cada pasta carrega o rastro de uma história — não uma história que alguém ditou, mas aquela que eles escolheram viver.
Dica para Unschoolers: O caminho não é linear. E está tudo bem.
A maior lição é que essas ferramentas podem e devem ser usadas fora da lógica escolar, em sintonia com os ciclos internos dos aprendizes. Quando um interesse se acende — como o fascínio por mangás, por exemplo —, é possível combinar ferramentas de forma fluida:
Usar Docs para desenvolver roteiros;
Sheets para planejar personagens;
Meet para discutir com amigos ou especialistas;
Blogger para compartilhar o processo.
O importante não é dominar a tecnologia, mas permitir que ela seja um meio para algo mais profundo: a construção de uma vida com sentido, autoria e liberdade.
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