P. EaD: Nosso material didático tem vida

Aprendemos com YouTube, TikTok, HQs, videogames e IA. Se alguém nos pedisse para mostrar os livros didáticos que usamos aqui em casa, talvez ficasse confuso com a nossa resposta. Porque nossos livros não têm capa dura, nem índice, nem páginas numeradas. Às vezes têm pixels, trilha sonora, personagens fictícios, ou comentários engraçados. E, mesmo assim, são profundamente educativos. A verdade é que nosso material didático vive nas plataformas onde o mundo pulsa.

Temos aprendido com YouTube e TikTok, por exemplo. Não com tudo, é claro — aprendemos também a separar o joio do trigo, a checar fontes, a reconhecer sensacionalismos. Mas dentro dessas plataformas, descobrimos criadores de conteúdo que explicam história com empatia, analisam questões sociais com humor crítico, traduzem conceitos complexos em vídeos de três minutos. Ana e Davi usam essas redes como espelhos e janelas: espelhos para reconhecer suas próprias perguntas, e janelas para enxergar o mundo por outros ângulos.

Os videogames, por sua vez, são nossos laboratórios. Com eles, entendemos narrativas, ética, estratégia, construção de mundos, colaboração, frustração. Jogar GTA aqui em casa, por exemplo, já gerou conversas sobre justiça, capitalismo, cidade, violência, leis, liberdade e até psicanálise. Não jogamos apesar de educar — jogamos para educar, porque o jogo, em si, é sempre um campo de linguagem, escolha e consequência.

Histórias em quadrinhos e mangás formam uma biblioteca afetiva. Escolhemos juntos o que ler, discutimos enredos, buscamos autores de diferentes culturas. Essas leituras nos ajudam a falar sobre identidade, pertencimento, família, tecnologia, moralidade. E o mais bonito é que cada nova história lida inspira Davi e Ana a compartilharem suas reflexões — sobre personagens, dilemas, desfechos. A leitura aqui é sempre semente de criação.

As plataformas de streaming também fazem parte do nosso currículo. Vemos séries e filmes com olhos de quem decifra signos. Discutimos estética, enredo, temas sociais. Algumas histórias nos ajudam a nomear sentimentos que estavam escondidos. Outras nos desafiam a pensar o que faríamos diferente. Às vezes, uma única fala de um personagem vira tema de conversa por dias. Não assistimos apenas para relaxar — assistimos para nos ver no outro.

E, claro, há as inteligências artificiais: o ChatGPT e o DeepSeek entraram na nossa vida como mediadores. Com a inteligência artificial, temos uma presença que “escuta”, ajuda a organizar ideias, propõe reflexões, sugere leituras. É como uma professora-viajante que se adapta a cada pergunta, e nos permite pesquisar com profundidade, como quem consulta uma grande biblioteca viva. A inteligência artificial nos ajuda a estudar com autoria, a investigar com liberdade, a escrever com propósito.

Nosso material didático não é neutro — ele carrega cultura, valores, intenções. E por isso, escolhemos com atenção. Não seguimos uma lista pronta: seguimos a curiosidade. E confiamos que, quando o desejo guia o aprendizado, qualquer ferramenta pode se tornar fonte de sabedoria.

Nosso currículo é orgânico, híbrido, inusitado. E o mais importante: ele faz sentido para nós. Porque aqui, mais do que acumular conhecimento, queremos viver o conhecimento. Queremos que ele nos transforme, nos conecte, nos expanda. E é isso que essas ferramentas — digitais, analógicas, afetivas — têm feito por nós.

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