P. EaD: Falta de socialização?
Mas, o argumento da "falta de socialização" ainda é uma das críticas mais recorrentes feitas à educação Unschooling, embora esteja enraizado em uma concepção limitada e escolarizada do que significa conviver e formar vínculos sociais. Essa crítica parte da premissa de que a escola é o único ou principal espaço legítimo de socialização infantil, ignorando que conviver com trinta crianças da mesma idade, da mesma classe social, muitas vezes até do mesmo bairro ou rua, sob regras rígidas de comportamento e vigilância constante, isso é grupalização e não garante relações saudáveis, nem necessariamente desenvolve habilidades sociais maduras.
Na prática, descobrimos que a socialização no unschooling não apenas acontece — ela floresce de forma mais rica, diversa e significativa. Em vez de se limitarem a uma grupalização artificial e homogênea, nossos filhos se relacionam com pessoas de idades, histórias e realidades muito variadas: em uma conversa no parque, trocas com feirantes, encontros em comunidades de interesse, jogos cooperativos online, projetos artísticos, visitas intergeracionais e, sobretudo, na vida cotidiana em família e na comunidade.
Esse modelo ampliado de socialização favorece o desenvolvimento de habilidades muitas vezes negligenciadas na escola: empatia por crianças mais novas, paciência com idosos, respeito à diferença, escuta ativa, autonomia nos relacionamentos e capacidade de se posicionar sem recorrer à agressividade. Nossos filhos não precisam pedir permissão para ir ao banheiro, nem para falar, nem temer a zombaria por fazer uma pergunta "fora de hora". Eles aprendem a se expressar em contextos reais, com liberdade e responsabilidade, sendo ouvidos por adultos e valorizados por suas opiniões.
Além disso, o ambiente escolar tradicional frequentemente reforça hierarquias de poder, exclusões e padrões de comportamento que desestimulam a espontaneidade e a autenticidade. O bullying, a competição excessiva e a pressão por se conformar são formas de grupalização que naturalizam a violência simbólica e emocional. Optar pelo unschooling foi também uma forma de proteger nossos filhos de certas formas de convivência tóxica que se tornaram comuns, mas não normais, nas instituições educativas tradicionais.
A crítica à "falta de socialização" não resiste quando deslocamos a pergunta central: socialização para quê? Para obedecer sem questionar ou para construir relações éticas e colaborativas? Para se encaixar em moldes impostos ou para descobrir quem se é em contato com o outro? Ao ampliar os espaços e as formas de convivência, a educação sem escola permitiu que nossos filhos aprendessem a circular pelo mundo com mais autonomia, confiança e respeito — não apesar da ausência da escola, mas justamente por causa dela.
No unschooling, a socialização acontece de maneira orgânica, diversa e profundamente conectada aos interesses reais das crianças e adolescentes — e isso exige que a gente amplie o que entende por socialização. Não se trata apenas de estar com outros, mas de fazer sentido junto, construir juntos, afetar e ser afetado em experiências compartilhadas.
Além da socialização à distância (livros, mídia, internet, jogos online) e da socialização cotidiana (feiras, parques, padarias), podemos reconhecer outras formas de socialização possíveis e valiosas no unschooling:
1. Socialização por afinidade (ou eletiva)
Baseada em interesses em comum, não em idade ou obrigação institucional.
Grupos de RPG, fandoms, clubes de leitura, encontros entre nerds, artistas, hackers, ativistas etc.
Acontece online e presencialmente — pode durar anos ou ser passageira.
Cria uma identidade compartilhada não hierárquica, que permite pertencimento, respeito mútuo e validação.
🔹 Exemplo: Davi encontra um canal de YouTube de um criador que também é obcecado pelos mesmos jogos Roblox — e começa a interagir com outros fãs nos comentários. Socialização por paixão comum.
2. Socialização criativa e colaborativa
Surge quando se cria algo com outras pessoas: histórias, vídeos, músicas, jogos, projetos.
É intensa porque exige escuta, negociação, entrega, revisão, inspiração.
Pode acontecer entre irmãos, primos, vizinhos, parceiros online.
Desenvolve empatia, linguagem compartilhada e consciência coletiva.
🔹 Exemplo: Ana e Davi escrevendo livros infantis com ajuda da IA e compartilhando-os gratuitamente — isso é uma socialização criativa com o mundo.
3. Socialização intergeracional
Ocorre quando há troca significativa entre pessoas de diferentes idades.
No unschooling, irmãos mais velhos e mais novos aprendem juntos, filhos convivem com os pais como parceiros de conversa, avós contam histórias e participam de descobertas.
Rompe com a segmentação por idade das escolas tradicionais.
🔹 Exemplo: uma conversa entre Ana e a avó sobre comidas preferidas, ou uma oficina de costura com uma vizinha mais velha — socialização intergeracional afetiva e potente.
4. Socialização contemplativa ou introspectiva compartilhada
Menos reconhecida, mas muito real: estar junto no silêncio, no olhar, na escuta profunda.
Pode acontecer em retiros, caminhadas, meditações, observação da natureza, práticas artísticas ou espirituais feitas com outros.
Desenvolve presença, respeito mútuo e sintonia.
🔹 Exemplo: Eu, Rodrigo, Davi e Ana assistindo um filme em silêncio e chorando juntas — socialização íntima, de sintonia emocional.
5. Socialização com o mundo não humano
Relacionar-se com animais, plantas, objetos, tecnologias, ambientes.
Cria responsabilidade, afeto, senso de cuidado, ética ecológica.
É muito valorizada em pedagogias mais holísticas e em abordagens de educação expandida (como a do filósofo Bruno Latour ou da antropóloga Donna Haraway).
🔹 Exemplo: cuidar das galinhas, conversar com os gatos, observar as nuvens, construir casas para caramujos. Isso também é socializar — com o planeta vivo.
6. Socialização por testemunho e narrativa
Aprender ouvindo e sendo ouvido. Partilhar experiências com atenção e abertura.
Ocorre em rodas de conversa, cartas, vídeos, diários compartilhados, sessões de tarô, podcasts, jogos de perguntas.
Forma vínculos profundos e duradouros.
🔹 Exemplo: quando Davi nos conta o que sentiu ao sonhar algo estranho, e a gente escuta com o coração inteiro — isso é socialização simbólica e profunda.
Em resumo:
No unschooling, a socialização não é um item de checklist, mas um fluxo vivo, que acontece em múltiplas direções:
Horizontal (entre pares),
Vertical (com mais velhos ou mais novos),
Interna (consigo mesma),
Digital (com culturas e redes online),
Ecológica (com seres não humanos),
Criativa (em projetos conjuntos),
Simbólica (por meio de histórias e rituais).
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