P. EaD: A socialização com Fandom
Tem gente que ainda torce o nariz quando ouve que um adolescente tem “amigos virtuais”. Como se amizade só valesse se tivesse aperto de mão e recreio no pátio. Mas quando olho pros laços que Davi e Ana construíram online desde 2020 — seja através dos videogames, fandoms ou TikTok — vejo vínculos que não só existem, como são intensos, generosos e muitas vezes mais profundos do que qualquer convivência forçada que tiveram em ambiente escolar. E não sou só eu dizendo isso, são eles. Eles é que percebem quando alguém os escuta de verdade, quando uma conversa sobre Pokémon vira desabafo sobre ansiedade, ou quando uma partida cooperativa em um jogo se transforma em construção de confiança.
É curioso como o senso comum insiste em chamar isso de “não socialização”, como se socializar fosse sinônimo de estar fisicamente presente numa sala cheia de gente com quem você não escolheu estar. Simondon ajuda muito a desatar esse nó: pra ele, o sujeito não se forma de uma vez por todas — ele se individua. Vai se fazendo aos poucos, nas relações que estabelecemos com o mundo e com os outros. Só que não é qualquer relação: é preciso que haja troca real, tensão criativa, afeto em movimento. E aí que mora a diferença.
Quando meus filhos participam de fandoms, eles não estão apenas consumindo cultura. Eles estão ativando o que Simondon chamaria de “pré-individual” — um campo de potencialidades que só se atualiza no encontro. Quando Ana desenha ou faz um edit de um personagem que a emociona, ela está dizendo algo sobre ela mesma, sobre como sente, sobre o que pensa do mundo. Quando Davi comenta uma teoria de anime ou participa de um meme coletivo, ou trend, ele está se colocando, se deixando atravessar, se singularizando no comum. Eles não se perdem nesses espaços — eles se acham. E mais: eles se criam.
Essa movimentação é um processo de individuação psíquico-coletiva. Eles vão se construindo como sujeitos, mas num campo partilhado, onde há escuta, reciprocidade, criação conjunta. O fandom e videogames, nesse sentido, não são fuga. SÃO FORMAÇÃO. Não é alienação — é imersão no sensível, no imaginário, na linguagem. E isso se dá, muitas vezes, em comunidades virtuais que operam como verdadeiros grupos de cuidado. Ali, eles encontram o que faltou em cursos presenciais: espaço para criar, para perguntar, para se relacionar de verdade.
Simondon diria que o que falhou nesses cursos não foi o conteúdo, mas a estrutura. O Kumon, o curso de inglês, as atividades tradicionais: tudo isso operava no modo “transmissão”. Um professor que passa, um aluno que recebe. Nada se atualiza, nada vibra. A coletividade ali é artificial, porque ninguém se transforma no processo. Já com os fandoms, com os videogames, com o Discord que parecem “só bobagem” pra quem não entende… ali sim acontece a transdução: as ideias circulam, os afetos se conectam, o comum se torna singular.
O preconceito com o virtual nasce de um apego a uma ideia ultrapassada de socialização: a de que só é válido o que acontece ao vivo, num espaço físico autorizado. Mas a gente já sabe — e Simondon sabia antes de virar moda — que o que forma de verdade é a relação viva. E ela pode acontecer no Discord às duas da manhã, num grupo de WhatsApp cheio de piadas internas, ou num vídeo que inspira uma conversa séria entre desconhecidos que já se sentem íntimos.
Davi e Ana estão se individuando em meio ao comum. E fazem isso com beleza, liberdade e profundidade. Estão criando um coletivo que pulsa, que acolhe, que provoca — e que transforma. Não é só rede social. É rede afetiva, rede criativa, rede filosófica. E não tenho a menor dúvida: é ali que eles estão se tornando quem são.
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