P. EaD: YouTube como espelho de identidade

Ao longo do Elementary e Middle School, uma nova janela se abriu no cotidiano pedagógico aqui em casa: o YouTube. Essa plataforma, inicialmente vista por muitos como espaço de mero entretenimento, transformou-se em uma potente aliada no Unschooling — tanto como fonte de conteúdo quanto como espelho da subjetividade em construção.

A Clonlara School, onde nossas crianças são oficialmente matriculadas, reconhece o valor de plataformas como o YouTube na mediação de saberes. Iniciativas como Khan Academy, TED-Ed, Kurzgesagt e tantas outras vêm democratizando o acesso ao conhecimento com vídeos claros, dinâmicos e muitas vezes apaixonantes. Esse fenômeno tem sido chamado de "YouTube EDU", e sua relevância só cresce: são mais de 65.000 vídeos educativos produzidos por universidades, ONGs, professores independentes e entusiastas do conhecimento, organizados em playlists e categorias acessíveis a qualquer um com conexão à internet.


Mas, além do conteúdo tradicionalmente reconhecido como “educativo”, o YouTube cumpre outra função — talvez ainda mais significativa — no desenvolvimento dos nossos filhos: a de arena identitária. Como destacou Vanesa Pérez-Torres em sua pesquisa Los youtubers y la construcción de la identidad adolescente, os youtubers são percebidos por muitos adolescentes como pares. São pessoas com quem se identificam não apenas por afinidade temática, mas porque compartilham ansiedades, estilos de vida e formas de se apresentar ao mundo. Através desses vídeos, nossas crianças têm se deparado com diferentes modos de ser, pensar e existir. E não só assistem: comentam, reagem, fazem paralelos com suas próprias experiências.


Com isso, os vídeos do YouTube não se restringem a momentos de distração. Pelo contrário, tornam-se pontos de partida para discussões que atravessam as refeições, os passeios, os projetos. Já debatemos desde como montar um sistema de agrofloresta em vasos até questões delicadas como infidelidade em relacionamentos, graças a vídeos vistos por eles — muitas vezes no contexto de youtubers com os quais se identificam.

Além disso, a estrutura descentralizada da plataforma permite que o aprendizado seja profundamente personalizado. Ana e Davi não apenas aprendem o que desejam, mas também com quem desejam. Eles escolhem não só os temas, mas os estilos, as vozes, os ritmos e os valores com os quais desejam conviver. Essa liberdade de escolha é, em si, uma experiência formadora.


A curadoria é viva. Sabemos que, nos próximos anos, novas figuras surgirão, outras se apagarão, e o gosto de Ana e Davi continuará a mudar, como deve ser. Mas o que permanece é a potência dessa ferramenta como uma ponte entre o mundo e nossas crianças, entre o conhecimento e a imaginação, entre o desejo de aprender e o prazer de ser.

YouTube, para nós, tem sido muito mais do que uma plataforma: tem sido um ambiente de convivência, um campo de experimentação, um espelho de subjetividades e, sobretudo, uma escola em constante atualização.

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