Sugestão de leitura férias de julho 2024

Caros colegas da Clonlara,

Como parte do meu projeto de me tornar um crítico de histórias em quadrinhos, estou organizando um desafio de leitura para iniciar nas férias de julho e gostaria de convidá-los a participar comigo e com a Ana. Eu, Davi, e minha irmã Ana, montamos esse desafio de leitura juntos: a Ana sugeriu os graphic novels e eu sugeri os mangás e webtoons. Durante esse período, estaremos explorando as principais técnicas narrativas da pós-modernidade e como elas se manifestam nas histórias em quadrinhos. Como sabemos, estamos todos espalhados pelo mundo, em diferentes fusos horários, mas isso não nos impede de nos conectarmos e compartilharmos perspectivas.

Ao estudar sobre as narrativas pós-modernas, aprendi que elas desafiam as convenções tradicionais de contar histórias, muitas vezes subvertendo expectativas. Algumas das características distintivas incluem a desconstrução de convenções narrativas, a metaficção, e a fragmentação.

Para este desafio de leitura, escolhemos algumas obras que exemplificam essas características e que gostaríamos de compartilhar. As sugestões de leituras podem ser realizadas no tempo e ritmo de cada um, a proposta não é um cronograma. Durante as férias de julho, vamos nos dedicar a estas leituras e, ao longo do segundo semestre letivo, nós vamos compartilhar resumos e análises dessas obras no blog deste clube. Convido vocês a lerem essas histórias conosco e a compartilharem suas próprias reflexões e análises, seja aqui, seja nas redes sociais de sua preferência. Vamos explorar como as técnicas narrativas da pós-modernidade são aplicadas nas histórias em quadrinhos e como isso influencia nossa percepção e compreensão das narrativas.

Se estiverem interessados em participar deste desafio de leitura e quiserem uma cópia digital de alguns destes HQs para a leitura nas férias, por favor, entrem em contato conosco através do email nosorientandocomnossosfilhos@gmail.com . Estou animado para embarcar nessa jornada de descoberta e aprendizado com vocês.

CARACTERÍSTICAS DA NARRATIVA PÓS-MODERNA

Desconstrução
Enquanto as narrativas anteriores frequentemente apresentam grandes narrativas ou meta-narrativas que fornecem estruturas de significado e interpretação para o mundo, a narrativa pós-moderna tende a questionar e desconstruir essas narrativas. Em vez de aceitar verdades absolutas ou sistemas de crenças dominantes, a narrativa pós-moderna tende a destacar sua contingência e instabilidade. A narrativa pós-moderna frequentemente desconstrói tropos narrativos e estereótipos de personagens, como uma forma de questionar e desafiar as convenções estabelecidas. Isso pode ser feito de várias maneiras ...

Desconstrução da linguagem: 
Em certos casos, os escritores pós-modernos desafiam as convenções linguísticas, brincam com a estrutura da frase, empregam neologismos ou subvertem as expectativas gramaticais e sintáticas, tudo isso como parte de sua experimentação narrativa.

Inversão de Papéis: 
Em vez de seguir os papéis e arquétipos convencionais, os personagens na narrativa pós-moderna podem subverter expectativas ao assumir papéis inesperados. Por exemplo, um personagem que normalmente seria retratado como herói pode se revelar como um antagonista, enquanto um personagem inicialmente retratado como vilão pode demonstrar qualidades heroicas.

Desconstrução de Motivos e Motivações
Em vez de aceitar motivos e motivações simplistas para as ações dos personagens, a narrativa pós-moderna pode explorar as raízes mais profundas e complexas por trás de seus comportamentos. Isso envolve questionar e desafiar as motivações convencionais dos personagens, revelando camadas de ambiguidade e ambivalência.

Subversão de Expectativas: 
A narrativa pós-moderna frequentemente joga com as expectativas do leitor, levando a reviravoltas inesperadas na trama. Isso pode envolver a introdução de elementos aparentemente familiares, apenas para subvertê-los de maneira surpreendente. Por exemplo, uma situação que parece seguir um tropo familiar pode se desviar dramaticamente do esperado.

Subversão de Estereótipos de Personagens: 
Em vez de retratar personagens conforme os estereótipos tradicionais, a narrativa pós-moderna pode subverter esses estereótipos, criando personagens mais complexos e multifacetados. Isso pode incluir personagens que desafiam as expectativas em relação ao seu gênero, etnia, orientação sexual ou papel na história.

Sátira de Clichês de Gênero: 
A narrativa pós-moderna muitas vezes utiliza a sátira para comentar sobre os clichês de gênero presentes em muitas histórias. Isso pode envolver a paródia de tropos comuns, como a donzela em perigo, o herói corajoso ou o vilão unidimensional, expondo sua falta de realismo ou relevância em um contexto contemporâneo.

VAMOS LER:

"A Origem do Mundo" (Liv Stromquist): A obra desconstrói narrativas tradicionais sobre a história, especialmente no que diz respeito à opressão das mulheres ao longo do tempo. Stromquist desafia e questiona mitos históricos e sociais, revelando as contradições e injustiças subjacentes.

"Asterios Polyp" (David Mazzucchelli): Nesta obra, o autor David Mazzucchelli explora a desconstrução de arquétipos e estereótipos. O protagonista, Asterios Polyp, é um arquiteto arrogante e intelectual, que representa muitos dos arquétipos associados ao homem moderno. No entanto, ao longo da história, Mazzucchelli desconstrói esses estereótipos, revelando as falhas e contradições do personagem. Isso questiona a validade dos arquétipos tradicionais e sugere uma compreensão mais complexa e multifacetada da identidade humana.

"Maus" (Art Spiegelman): Uma graphic novel escrita e ilustrada por Art Spiegelman, que faz referências explícitas à história do Holocausto e à literatura sobre o tema. A obra realiza a desconstrução da hierarquia de gêneros narrativos. Em "Maus", Spiegelman desafia as normas tradicionais dos quadrinhos ao contar uma história séria e profundamente pessoal através de um meio muitas vezes associado à ficção popular e ao entretenimento leve. Ao fazer isso, ele desconstrói a ideia de que os quadrinhos são um gênero inferior, demonstrando sua capacidade de abordar temas complexos e emocionalmente carregados com profundidade e sutileza.

Metaficção
A metaficção são características proeminentes da narrativa pós-moderna. As narrativas pós-modernas muitas vezes se tornam autoconscientes, comentando sobre si mesmas e sobre o próprio ato de contar histórias. Isso pode incluir narradores não confiáveis, quebras da quarta parede, paródias de convenções narrativas e reflexões sobre o próprio ato de narrar.

Narradores não confiáveis: Narradores que apresentam uma visão distorcida ou parcial da história, levando os leitores a questionar a veracidade dos eventos narrados. Isso cria um senso de intriga e mistério, incentivando os leitores a interpretar ativamente os acontecimentos e a descobrir a verdade por trás das aparências. Além disso, muitas vezes, na literatura pós-moderna, os limites entre realidade e ficção, verdade e mentira, são intencionalmente obscurecidos. Os narradores podem ser pouco confiáveis, os eventos podem ser interpretados de várias maneiras e o leitor muitas vezes é deixado com perguntas não respondidas.

Quebras da quarta parede: Momentos em que os personagens reconhecem a presença do público ou interagem diretamente com o leitor, rompendo a ilusão da realidade ficcional. Isso promove uma sensação de intimidade e participação, fazendo com que os leitores se sintam mais conectados à narrativa e aos personagens.

Paródias de convenções narrativas: Subversão ou satirização de elementos comuns das histórias, como clichês de gênero, tropos narrativos ou estereótipos de personagens. Isso cria uma sensação de frescor e originalidade, desafiando as expectativas do leitor e incentivando uma reflexão crítica sobre os padrões narrativos convencionais.

Reflexões sobre o próprio ato de narrar: Exploração dos processos de criação e recepção de histórias, incluindo discussões sobre a natureza da narrativa, o papel do autor e do leitor, e os limites entre realidade e ficção. Isso estimula uma reflexão metaficcional sobre o significado e a interpretação das histórias, envolvendo os leitores em um diálogo mais profundo sobre os temas abordados.

VAMOS LER:

"V de Vingança" (Alan Moore e David Lloyd): Esta graphic novel distópica apresenta uma sociedade totalitária em que um misterioso vigilante conhecido como "V" luta contra o regime opressor. Alan Moore utiliza elementos de metaficção ao explorar temas políticos e sociais, além de fazer reflexões sobre a própria natureza da liberdade e do poder.

"Retalhos" (Craig Thompson): Esta autobiografia em quadrinhos de Craig Thompson conta a história de sua infância e adolescência, explorando temas como família, religião e sexualidade. Thompson utiliza elementos de metaficção ao incorporar elementos oníricos e simbólicos em sua narrativa, criando uma experiência de leitura profundamente pessoal e emotiva.

"Pílulas Azuis" (Frederik Peeters): A obra incorpora elementos autobiográficos, mas ao mesmo tempo questiona a natureza da própria autobiografia e da representação da realidade. Peeters não apenas narra suas experiências, mas também reflete sobre o processo de contar histórias e sua capacidade de capturar a verdade.

"JoJo's Bizarre Adventure" de Hirohiko Araki: Em várias partes desta série, especialmente em "Diamond is Unbreakable" e "Golden Wind," os personagens e eventos desafiam as normas tradicionais da narrativa. Há momentos em que os personagens parecem cientes de suas próprias histórias, e as referências culturais e a estilização exagerada servem como uma forma de paródia e comentário sobre as convenções dos mangás de ação e aventura.

Fragmentação
As narrativas da pós-modernidade desafiam as expectativas tradicionais e oferecem uma experiência de leitura mais dinâmica, participativa e reflexiva. Ao romper com as convenções estabelecidas e explorar novas formas de contar histórias, essas técnicas incentivam os leitores a se envolverem ativamente com o texto, interpretando significados de maneiras diversas e refletindo sobre sua própria relação com a narrativa e o mundo ao seu redor.

Mescla de Gêneros: Enquanto as narrativas tradicionais muitas vezes se enquadram em gêneros claramente definidos, como romance, tragédia ou comédia, as narrativas pós-modernas desafiam essas categorias, mesclando elementos de diferentes gêneros e estilos. Isto é, o hibridismo, ou intertextualidade, envolve essa mistura de diferentes estilos literários, linguagens ou formas narrativas dentro de uma única obra. Isso pode incluir a fusão de elementos de ficção científica com realismo mágico, ou romance histórico com elementos fantásticos. E resulta em narrativas mais fluidas e ambíguas, que desafiam as expectativas do público.

Intertextualidade: A narrativa pós-moderna incorpora referências a outras obras de arte, cultura popular e formas de mídia, criando uma experiência de leitura mais interconectada. Isso dilui as fronteiras entre diferentes formas de arte e cultura, enriquecendo a experiência do leitor e proporcionando uma compreensão mais ampla do texto. Ou seja, além da intertextualidade tradicional, que faz referência a outras obras literárias, a literatura pós-moderna muitas vezes inclui referências a uma ampla gama de mídias e culturas populares, como filmes, música, arte visual e até mesmo jogos de videogame.

Pluralidade de Perspectivas: As narrativas pós-modernas apresentam uma multiplicidade de vozes e perspectivas, permitindo uma variedade de interpretações e pontos de vista. Ao contrário das narrativas anteriores, que muitas vezes são centradas em um único ponto de vista linear, as narrativas pós-modernas abraçam a diversidade de perspectivas, enriquecendo a complexidade da história e incentivando uma análise mais crítica por parte do leitor.

Deslocamento Temporal: Esta técnica envolve a manipulação não linear do tempo na narrativa. Os eventos podem ser apresentados fora de ordem cronológica, em flashbacks, flashforwards, ou de forma cíclica, desafiando assim a noção convencional de tempo linear na narrativa.

VAMOS LER:

"Fun Home" (Alison Bechdel): Uma graphic novel autobiográfica que explora a relação conturbada da autora, Alison Bechdel, com seu pai, que era gay e se suicidou. A obra apresenta uma multiplicidade de perspectivas ao examinar as memórias de Bechdel, as cartas e documentos deixados por seu pai e as diferentes interpretações dos eventos familiares ao longo do tempo.

CONCLUINDO, é importante ressaltar que nem todas as histórias em quadrinhos compartilham essas características, e muitas obras dentro do meio podem ser consideradas mais tradicionais em sua abordagem narrativa. Portanto, enquanto algumas histórias em quadrinhos podem ser consideradas narrativas pós-modernas, outras podem não se encaixar nessa categoria. A classificação de uma história em quadrinhos como pós-moderna depende da sua abordagem narrativa específica e das características que ela apresenta.

Compartilhe suas descobertas com colegas através de suas redes sociais ou aqui no blog para trocar experiências e aprendizados, o link com as orientações é esse aqui - https://clubedeliteraturainfantojuvenil.blogspot.com/p/como-se-tornar-um-colaborador.html

Com entusiasmo,
Equipe do Clube 

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