P. EaD: Nossa Jornada no Unschooling

Superando Inseguranças e Aprendendo com Nossos Filhos


Quando começamos a considerar o unschooling, admito que foi um caminho de muita dúvida e insegurança para mim e para o Rodrigo. A decisão de tirar as crianças da escola e adotar uma abordagem tão diferente da convencional foi desafiadora. No início, ficamos receosos de que eles não aprenderiam “o suficiente” ou que não estariam preparados para o futuro. Assim, mesmo tendo decidido pelo unschooling, acabamos, de certa forma, trazendo a escola para dentro de casa.


Tentando Recriar a Escola em Casa


Nos primeiros anos, entre 2018 e 2019, minha vontade de garantir que eles estivessem “aprendendo” me levou a adotar um método um pouco mais rígido. Comprei apostilas, e, mesmo sem perceber, passei a impor algumas atividades. Para ensinar ciências, por exemplo, eu os envolvia nos cuidados com as plantas, insistindo que eles acompanhassem o crescimento e desenvolvimento de cada vaso. Quando nos mudamos para uma casa, decidi que plantar um pomar seria uma ótima maneira de aprofundar o aprendizado na prática, então eles nos ajudaram em todos os detalhes, assim como em muitos outros projetos no jardim. Da mesma forma, incentivamos que nos ajudassem a construir uma cama estilo loft do zero, como uma forma de aprender matemática e raciocínio lógico.


Eu queria que eles aprendessem, e foi uma fase em que eu ainda sentia necessidade de “mostrar o caminho” para cada conteúdo, mas a realidade é que, paralelamente a essas atividades guiadas, eles já começavam a desenvolver uma independência que me surpreendia cada vez mais.


A Autonomia que Nos Surpreendeu


Ao mesmo tempo que insistíamos em algumas atividades, nossos filhos, por iniciativa própria, começaram a explorar e aprender de maneiras que jamais teríamos imaginado. Davi, por exemplo, aprendeu a ler sozinho em português e em espanhol, motivado pelos videogames que tanto gosta. Ana, com sua paixão pela arte, foi desenvolvendo habilidades no desenho, buscando tutoriais e referências por conta própria nas redes sociais. Eles estavam, aos poucos, encontrando formas de aprender que faziam sentido para eles – e que eram muito mais naturais e prazerosas.


E não foi só isso. Em uma dessas descobertas, nos apresentaram o canal “Kurzgesagt,” uma fonte fantástica de conhecimento, que eles adoravam assistir e compartilhar. Foi também através deles que conhecemos o Minecraft, um mundo virtual que abriu portas para uma infinidade de aprendizados. A cada construção ou descoberta no jogo, eles nos mostravam algo novo e inspirador, integrando conhecimentos de história, ciências, e até programação. Mais tarde, foram eles que nos apresentaram o ChatGPT, assim como outras tecnologias que hoje fazem parte do nosso dia a dia.


A “Ficha Caiu”: Aprendemos a Confiar no Processo


Foi nesses momentos de surpresa e admiração que a ficha realmente caiu: nossos filhos não eram “copos vazios” esperando para serem preenchidos com conhecimento. Eles eram curiosos, autodidatas, com uma capacidade de aprender e explorar que iam muito além das nossas expectativas. Esse reconhecimento foi um ponto de virada para nós. Percebemos que o unschooling realmente funciona e que, mais do que “guiar”, nosso papel era o de oferecer suporte e recursos, permitindo que eles seguissem seus interesses e, assim, aprendessem com autenticidade.


Foi então que mudamos nossa abordagem. Passamos a fazer convites em vez de impor atividades. Se aceitassem, ótimo; se não, tudo bem. Descobrimos que, ao dar espaço para que eles próprios escolhessem seus caminhos, o aprendizado fluía naturalmente.


Aprendendo com Nossos Filhos


Outro presente dessa experiência foi aprender a enxergar o mundo pelos olhos deles. Aceitar os convites dos nossos filhos abriu portas que eu jamais teria explorado sozinha. Eles me apresentaram aos videogames, aos quadrinhos, aos mangás e animes – tudo com um entusiasmo e conhecimento que me impressionavam. Eu, que antes carregava certo preconceito sobre algumas dessas atividades, fui aprendendo a valorizar o que cada uma tem a oferecer, e posso dizer que hoje me sinto uma pessoa mais aberta e conectada com os interesses dos meus filhos.


Conclusão: Deixar Voarem Livremente


Hoje, mais do que ensinar, vejo que nossa função é confiar e aprender junto com eles. Essa jornada no unschooling é, acima de tudo, uma lição de confiança, tanto no potencial dos nossos filhos quanto na incrível capacidade humana de aprender. Permitir que voem livremente foi a melhor decisão que tomamos, e a cada dia somos mais gratos por termos superado nossas inseguranças iniciais.


O unschooling nos ensina constantemente a respeitar, a admirar e, sobretudo, a aprender com nossos filhos. Afinal, eles não só têm muito a aprender, como têm muito a nos ensinar também.


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