P. Videogames: The Witcher - Hipertexto

Segundo os estudos de David Millard, analisando o enredo do videojogo The Witcher, a narrativa não se resume apenas a um enredo, mas também inclui o que os formalistas russos chamam de Fabula, essencialmente os objetos, as criaturas e os lugares. Os videojogos se beneficiam de uma Fabula rica sem ter que ter um grande enredo. Miller dá como exemplo o videojogo League of Legends que apresenta uma riqueza de objetos, criaturas e lugares, mas não tem enredo, e esse é o caso também do videojogo The Witcher, que soube explorar o rico folclore eslavo em sua própria construção narrativa, com personagens fortes, criaturas fantásticas, lugares memoráveis e uma série de objetos encantados. 

O videojogo The Witcher também lançou mão de micro-narrativas secundárias através de muitas missões de caça a tesouros, independentes da experiência maior do enredo da busca de Geralt para encontrar e ajudar Ciri, sua filha adotiva. Gerenciar este arco dentro de um ambiente de mundo aberto tão grande e ainda assim recheado com elementos Fabula é um feito impressionante, e vale a pena olhar como o videojogo o gerencia. Miller vê The Witcher como um hipertexto escultural, isto é, uma sequência principalmente de missões, com histórietas lineares, vivenciadas dentro de uma estrutura de três Atos de um enredo mais amplo (quatro se incluir o tutorial) que são efetivamente fases da narrativa. O diagrama desenhado por Miller abaixo dá uma ideia:




Um modelo assim de videojogo permite que o jogador se mova entre diferentes segmentos da narrativa sem necessariamente completá-la. É hipertextual principalmente em termos da justaposição de histórietas lineares (threads) e da ordem em que são experimentadas.
A narrativa original

"The Witcher" é um conto escrito por Andrzej Sapkowski, tendo sido publicado pela primeira vez na revista Fantastyka e mais tarde se tornou um romance, Wiedəmin, antes de ser re-publicado. Sapkowski apresenta o bruxo Geralt e sua famosa luta com uma Striga. A Striga é uma das bestas mais temíveis que Geralt caçou ao longo de seus muitos anos perigosos como bruxo – uma mulher amaldiçoada e monstruosa cheia de uma fúria irracional e assassina. Sapkowski descreveu o conto de Geralt e a Striga como uma sátira ou uma paródia de uma lenda do folclore eslavo, coletada pelo escritor polonês Roman Zmorski. Sapkowski transformou essa lenda em um conto de alta fantasia, mas muitos dos elementos mais grotescos da lenda original sobreviveram, lançando as bases para a atmosfera exclusivamente sombria do universo de The Witcher.

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