P. Ilustrações: Frida Kahlo

Redesenhando Frida Kahlo: Autorretrato com Cabelo Cortado (1940)


O meu plano de estudos para o primeiro semestre letivo no High School foi World History Through Art. O meu objetivo principal é um estudo da evolução da arte em contextos históricos, com foco em estilos artísticos como reflexo de mudanças sociais, políticas e geográficas. Criar fanarts cartunescas baseadas em períodos históricos específicos. Tópicos abordados: 1) Influência da cultura pop (filmes, séries, jogos) na arte moderna e na fanart.; 2) Evolução da arte popular e seu diálogo com movimentos históricos (ex.: Renascimento, Era Vitoriana, Industrial); 3) Características chave de cada período (ex.: luz e perspectiva no Renascimento, maquinários na Era Industrial).  


Um dos desafios que eu me propus foi buscar uma referência de imagem, preferencialmente de uma mulher, para redesenhar no meu estilo cartum, e articular em uma postagem aqui, com o que a minha mãe compartilhou comigo sobre feminismo, e foi assim que eu escolhi a Frida.


Minha arte:

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Minha referência:


Quando escolhi redesenhar Autorretrato com Cabelo Cortado, sabia que não era só sobre fazer um desenho bonito. Frida me olha de um jeito que parece atravessar o tempo, o gênero, a arte. Ela está sentada num terno largo, o cabelo — que antes era parte da imagem clássica da feminilidade — agora caído no chão. Na mão, a tesoura. Ao redor, um silêncio pesado.


O cabelo cortado é mais que estética: é recusa. É como se Frida dissesse “eu não vou ser a mulher que vocês esperam”. No meu traço cartunesco, mantive o terno e o chão cheio de fios, mas acentuei o olhar firme, porque ali está a parte que mais me pega: a decisão.


Enquanto eu desenhava, comecei a pensar nas leituras sobre feminismo que venho fazendo com a minha mãe. A partir delas, percebi que esse autorretrato pode ser visto de muitos jeitos:


Feminismo liberal: Frida está dizendo “é o que eu quero, então é certo”. É um ato de autonomia individual, como usar um look que você mesma escolhe. Mas essa visão ignora que até nossas “escolhas” podem nascer de um mundo cheio de pressões invisíveis.


Feminismo negro interseccional: O corte de cabelo de Frida tem uma recepção diferente porque ela é uma mulher mexicana em um cenário dominado por padrões brancos. Penso em como artistas negras ou indígenas têm seus corpos e escolhas lidos com outros filtros — geralmente mais duros.


Feminismo decolonial: A imagem desafia o padrão colonial de beleza feminina — pele clara, cabelo comprido, delicadeza. Frida não só corta o cabelo, mas veste um terno masculino, virando as costas para esse “ideal exportado”.


Feminismo radical: Mesmo um ato de rebeldia como esse não está livre do olhar patriarcal. Será que Frida se livrou do roteiro que molda todas as mulheres na arte, ou apenas escreveu uma versão própria dele?


Feminismo pós-estruturalista: Talvez esse corte não seja “o verdadeiro eu” de Frida, mas mais uma performance — um papel que ela encena para provocar reações e desafiar categorias fixas.


Feminismo marxista: Cortar o cabelo também é, de certo modo, recusar um trabalho não remunerado — o de manter-se “apresentável” segundo as regras sociais. É largar a manutenção diária que o patriarcado espera das mulheres.


No final, o que mais me atraiu nessa obra é que ela não dá respostas simples. Não sei se Frida estava se libertando, provocando ou apenas se reinventando. Talvez seja tudo ao mesmo tempo. E isso me lembra que o feminismo não é um manual único: é um conjunto de lentes para ver o mundo — e, no meu caso, para redesenhar esse mundo no meu traço.


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