P. Cine&Tela: O Senhor dos Anéis

🌟 Tolkien era racista? Um papo sincero sobre fantasia, elfos brilhosos e o poder das histórias

Você já leu O Senhor dos Anéis ou viu os filmes e ficou com aquela sensação esquisita de que os elfos brancos e perfeitos pareciam sempre os “certos”, enquanto os personagens de pele escura, deformados ou “estranhos” eram os “do mal”? Se sim, você não está sozinho. Essa dúvida já passou pela cabeça de muita gente — e é sobre isso que a gente vai conversar hoje.


💬 Primeiro de tudo: dá pra amar uma obra e ainda assim questionar algumas coisas

Muita gente no fandom sente um carinho enorme pelas histórias do Tolkien. Ele foi um dos primeiros autores a criar um mundo de fantasia tão completo, com línguas próprias, mapas, mitos e personagens inesquecíveis. Mas amar uma obra não significa aceitar tudo sem pensar.

Na verdade, o amor verdadeiro por uma história inclui fazer perguntas, refletir, conversar com outras pessoas sobre o que nos incomoda ou nos faz pensar.


⏳ Quem foi Tolkien e em que época ele viveu?

J.R.R. Tolkien nasceu em 1892, na Inglaterra. Viveu numa época em que o mundo ainda era super dominado pelo colonialismo — aquele sistema em que países europeus invadiam e exploravam territórios na África, na Ásia e na América. Isso significa que muitas ideias racistas estavam por todo lado, mesmo que as pessoas nem percebessem.

Tolkien não era do tipo que apoiava o nazismo ou o apartheid. Pelo contrário, ele escreveu cartas criticando essas coisas. Mas isso não impede que ele tenha colocado, sem querer, alguns estereótipos racistas nas suas histórias. Afinal, ele era um homem branco europeu do século 20, e estava imerso nesse jeito de pensar o mundo.


⚖️ Vamos olhar com atenção para os povos da Terra-média?

Quando a gente lê com mais cuidado, percebe umas coisas estranhas:

Os elfos são quase sempre descritos como brancos, altos, belos, sábios e imortais. Eles vivem em lugares mágicos e parecem meio “superiores”.

Os orcs são retratados como escuros, feios, violentos e perversos. Não têm cultura própria nem uma história contada do ponto de vista deles.

Os povos do sul e do leste, como os Haradrim e os Orientais, são muitas vezes tratados como “exóticos”, “barbáricos” e “inimigos dos heróis”.

Isso cria uma espécie de divisão perigosa: os claros e belos como bons, os escuros e diferentes como maus. E isso não é só coisa da fantasia — reflete um jeito antigo (e infelizmente ainda presente) de ver o mundo.


🧠 Mas será que Tolkien fez isso de propósito?

Provavelmente não. Tolkien estava mais interessado em criar uma mitologia, uma espécie de "história mágica" para a Inglaterra, inspirada em lendas nórdicas, celtas e cristãs. Só que ele usou símbolos que carregam significados muito fortes, e, muitas vezes, racistas — mesmo que ele não quisesse.

Por exemplo, ele colocava muita importância em ideias como “luz” = bem e “trevas” = mal. Isso parece simbólico, mas também pode reforçar preconceitos se a gente não tomar cuidado.


🌀 E hoje, como a gente lida com isso?

A gente não precisa cancelar o Tolkien, nem fingir que essas questões não existem. O que a gente pode fazer é:

Ler com olhos críticos e abertos.

Perguntar: quem está contando essa história? E quem ficou de fora?

Descobrir outros autores que criam mundos diferentes, com diversidade racial, de gênero e de culturas.

Participar de discussões no fandom de forma respeitosa, mas sem medo de levantar essas questões.


📚 Algumas autoras e autores que reimaginam a fantasia:

N.K. Jemisin (A Terra Partida) — fantasia com protagonistas negros, mundos quebrados e temas de opressão e resistência.

Tomi Adeyemi (Filhos de Sangue e Osso) — inspirada na mitologia africana, com personagens que desafiam o padrão branco-europeu.

Silvia Moreno-Garcia, P. Djèlí Clark, Mariana Enríquez — trazendo vozes da América Latina, da África e do sul global para a fantasia e o terror.


❤️ Conclusão: quem tem luz não apaga a dos outros

Se os elfos brilham, que bom. Mas o mundo precisa de muitos tipos de brilho. Precisamos de personagens com todos os tons de pele, tipos de corpo, culturas e jeitos de ser. A fantasia serve justamente pra imaginar outros mundos possíveis, então que tal imaginar um mundo mais justo também?


Se você curtiu esse papo, compartilha com seu fandom, chama pra conversar e manda aqui nos comentários:

👉 Qual personagem você acha que merecia ter tido sua história contada de outro jeito?

👉 Que tipo de mundo você gostaria de criar se fosse escritora ou escritor de fantasia?


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