P. Ilustração: Camilo Castaño Quinchía

A arte que acolhe: sobre Camilo Castaño Quinchía e sua presença luminosa

Em meio à escuridão dos meses de quimioterapia que minha mãe atravessou em 2023, eu encontrei um farol inesperado: o artista colombiano Camilo Castaño Quinchía. Conhecê-lo — mesmo que à distância, através de um curso na Doméstika — foi um daqueles encontros que só a arte verdadeira é capaz de proporcionar: íntimos, transformadores, profundamente humanos.


Camilo não é apenas um ilustrador de grande talento técnico; ele é um contador de histórias visuais que entende, com delicadeza rara, que as imagens podem ser refúgio, reparo e reencontro. Seu traço combina o rigor da observação com a leveza do sonho. Suas personagens — tantas vezes crianças, figuras híbridas, bichos e almas errantes — nos olham de volta com um silêncio cheio de significados. Em sua arte, há ternura, mas nunca ingenuidade; há dor, mas nunca desespero.


O que me tocou profundamente, no entanto, foi sua generosidade como pessoa. Ao saber da minha situação — adolescente criativa, sensível, lidando com o isolamento escolar e a doença da mãe —, Camilo foi muito mais que um professor. Ele foi afeto, estímulo, segurança. Seu apoio silencioso, constante, gentil, plantou algo essencial no meu coração: a certeza de que há beleza, mesmo nos dias mais difíceis, e que essa beleza pode ser compartilhada.


Ao olhar as obras dele, percebo que sua estética dialoga com a memória e com o afeto. É como se ele criasse um território simbólico onde crianças e adultos pudessem se encontrar, fora das pressões cronológicas do mundo. Há algo de artesanal em sua técnica, algo que rejeita o brilho excessivo e abraça a textura daquilo que é feito com as mãos e com o coração.


Camilo Castaño Quinchía não ensina apenas a desenhar: ele nos convida a ver, sentir e cuidar. Ele mostra que a arte pode ser cura — não como milagre, mas como vínculo, como caminho aberto para existir de outro jeito. E por isso, seremos sempre gratos.



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